quinta-feira, 5 de abril de 2012

Exposição de motivos

Eu sou um modesto mestrando em Direito Constitucional pela minha queridíssima Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, casa em que também me graduei. Além disso, eu me intitulo um “livreiro-amador”, pois compro e vendo alguns livros esgotados da área jurídica. Para completar, tenho certos tiques de bibliófilo. Como é de se imaginar, há alguns anos eu tenho acumulado uma pequena experiência (e algum material) nas áreas em que concentro meus estudos (e meus pequenos negócios): direito constitucional e teoria jurídica.

Essas atividades, principalmente nos últimos anos, desenvolvidas em um estado que não tem uma grande tradição nos estudos jurídicos, especialmente em termos de Pós-Graduação (há, atualmente, dois cursos de doutorado no Ceará, e um deles, exatamente o da UFC, recrutou apenas a sua primeira turma em 2011), puseram-me em uma situação um tanto quanto dramática: sempre quis consultar/comprar/vender uma grande quantidade de obras, mas não disponho de recursos suficientes para isso. Quando falo recursos, não quero com isso me referir (somente) a dinheiro; claro que a condição de um bolsista de pós-graduação no nosso país é periclitante nesse aspecto (e em tantos outros), pelo que nem preciso de ir muito longe na demonstração de que a carência de recursos sempre foi um problema seriíssimo para mim – pode ser que eu ainda conte como comecei a vender livros para comprar outros. Quero mesmo fazer menção à carência grave que temos de bibliotecas públicas ou privadas (que permitam o acesso ao grande público) com acervos amplos e atualizados, que recebam (ou tenham acesso on-line a) periódicos importantes etc. Também quero chamar a atenção para a completa falta de costume no comércio de livros usados, especialmente na área do direito, por conta da pouca informação que nossos poucos sebistas têm no assunto, assim como a falta de uma cultura de comercialização dos livros usados pelos nossos juristas. Infelizmente, temos informações de grandes bibliotecas que se destruíram com a ação do tempo e de bichos variados, ou foram vendidas no peso para reciclagem. Quando não foram mesmo ofertadas para as bibliotecas públicas e recusadas imediatamente, pois os “grandes” bibliotecários que temos não querem saber de “livros velhos” que lhes dêem trabalho (e, via de regra, não têm informação suficiente para saber como selecionar o que ainda tem valor, financeiro ou científico). O quadro é triste, e eu nem quero mais falar sobre isso agora. Acho que já é o suficiente. Se eu ainda fosse falar da pilhagem sobre as bibliotecas públicas antes da informatização dos sistemas, do vandalismo de alguns usuários e da proibição mesquinha de acesso ao acervo de certas universidades privadas, ainda iria longe...

Em outra frente, tenho me deparado com mais algumas dificuldades. A internet é uma ferramenta inacreditavelmente poderosa. Com o barateamento progressivo do curso de armazenamento de dados na grande rede, cada vez mais material é deixado ao acesso livre de quem tiver um ponto de acesso a ela. Aliada a isso, a crescente produção acadêmica no nosso país, difundida em grande parte por mídias digitais, tem promovido uma viragem curiosa na pesquisa bibliográfica: se antes o grande problema era começar um levantamento bibliográfico por falta de referências iniciais, hoje vários temas contam com bons trabalhos de referência disponíveis a custo zero, o que deslocou o problema: agora, o grande desafio pode ser a mineração dos dados, com (1) a descoberta de onde ele está e (2) a seleção do que realmente é relevante para iniciar o trabalho. Vale salientar que a profusão de publicações atinge não somente o “mundo dos bits”, mas também o “mundo dos átomos”; as publicações impressas também têm crescido a olhos vistos, o que faz com que o problema se repita nesta seara. Boas iniciações em alguns temas podem promover uma economia de tempo (e de dinheiro) que vale o que pesa em ouro!

À vista desses problemas, quer-me parecer que se justifica qualquer tentativa, por mais débil que se venha a mostrar, de contornar essas complicações. Procurarei trazer um pouco de alguma experiência que pude acumular em um tempinho que dediquei em “expedições arqueológicas” a bibliotecas públicas e particulares, sebos, endereços eletrônicos, xerox clandestinas etc. O foco é a bibliografia jurídica brasileira nas disciplinas que já indiquei. Mas os autores que mais admiro poderão ganhar espaço, mesmo que estrangeiros. Como o título do blog indica, certos temas afins terão um lugar cativo. Para começar, trarei algo sobre Clóvis Beviláqua, um dos meus heróis, cearense como eu.

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